sexta-feira, 30 de março de 2012

quando os amigos são uns filhos da puta

Há um mês fiz um jantar para o meu círculo de confiança. Eu cozinhei, eu limpei a sala, eu fiz as sobremesas. Eu fiz tudo. Fiz um pitéu, um entrecosto assado com umas batatinhas também elas no forno. De sobremesa havia um bolo de chocolate, a única coisa que não foi feita por mim.
Início do jantar e a expectativa estava no ar. Nunca tinha cozinhado para ninguém em Vila Real e eles não conheciam os meus dotes culinários.
Assim que uma das convidadas provou o jantar deixou sair um indignado: 'não podes ter sido tu a fazer isto' e eu 'fui' e ela voltava 'não, não foste nada tu que fizeste isto. Isto está mesmo bom. De certeza que tiveste aqui uma ajuda'.
Ainda hoje fico possessa de cada vez que me lembro disto. A sério? A sério que o discurso de um convidado que nunca provou dos meus cozinhados é 'não foste tu que fizeste isto' quando eu passei a tarde toda a garantir que tudo saia perfeito? No mínimo irónico, de muito mau-tom, brusco, estúpido e indicativo de uma falta de educação assim para o leve!
Não vou muito com aparências nem com ideias pré-concebidas. Não jogo com a imagem nem com primeiras impressões! Jogo com o tempo e o 'dar a conhecer-se' e mais importante jogo com o 'querer conhecer'. Temos que ter interesse em conhecer as pessoas, ouvi-las, perguntar, conversar e não definirmos toda a nossa opinião sobre elas com base numa observação. Não sei qual é a mania de merda de alguns dos meus amigos têm:
- Não sei cozinhar;
- Não sou capaz de 'governar' uma casa.
- Não sou capaz de me desenmerdar sozinha;
Porque:
- Nunca vivi com nenhum deles;
- Nunca tinha cozinhado para eles.
Isto até pode parecer um bocado ridículo mas lá está: parece. Porque magoa. Não sei onde eles foram buscar a ideia que eu não seja capaz de fazer e ser bem sucedida em determinadas coisas. Talvez por ter tido a sorte de nascer numa família de 3 mulheres MARAVILHOSAS que sempre fizeram de tudo, dentro do possível, para que nunca me faltasse nada. Mas isso não quer dizer que elas se tenham esquecido de me mostrar o necessário para se ter tanto na vida: muito trabalho.
O facto de ter pouca necessidade de fazer certas coisas não significa que não tenha conhecimento delas. Sabem regar a horta com uma sachola? Não? Eu sei. Sabem organizar um jantar para 15 pessoas? Não? Eu sei.
Parece que se recusam a saber mais sobre mim, sobre as minhas capacidades e sobre o que eu tenho para oferecer. Mas todos enfardaram naquela noite! Mas sempre a duvidar, alguns claro, da minha autoria.
E qual é a cara que eu ponho quando o meu trabalho é reconhecido com 'não podes ter sido tu a fazer isto, tenho que te ver a fazer'? Não ponho. Devia ter tirado o prato da frente dela. Devia ter dito qualquer coisa mas não disse. Isso é outra coisa que preciso de melhorar, falar quando algo me incomoda. Falar quando sinto que me estão a atingir. Falar quando sinto que algo está a ser mal feito.
Falar quando os meus amigos começam a ser filhos da puta para mim.

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